sábado, 9 de julho de 2016

No more "vagabunda"

Texto de Luiza Bello


A linguagem é algo tão corriqueiro no dia-a-dia. Teoricamente, é através dela que o homem se comunica com os seus iguais, mantendo com eles uma reciprocidade comunicativa. Há, portanto, sempre aquele que fala e aquele a quem se fala: são os dois pólos das relações comunicativas. O problema é quando se percebe que, variando o pólo do “aquele a quem se fala”, verifica-se uma mitigação daquela igualdade antes mencionada. O exemplo emblemático é o termo “vabagundo” e a sua inversão em “vagabunda”.

O termo “vagabundo”, a título de significado dentro da Língua Portuguesa, é “quem leva vida errante, perambula, vagueia, vabundeia”. Já “vagabunda”, conforme a mesma língua, é “mulher que gosta de ter muitos homens, puta”. Mude o gênero e haverá uma alteração do conceito. Essa mudança, longe de ser uma mera curiosidade linguística, demonstra uma desigualdade de gênero naturalizada nas conversas corriqueiras da vida. Uma mulher livre sexualmente é uma “vagabunda”, ao passo que ao homem é permitida uma vida sexual livre e plena sem qualquer tipo de estigmatização social. Uma mulher reprimida e um homem livre: que igualdade é essa? E ainda dizem que feminismo é perda de tempo...

Conceituar de modo desigual termos diferentes, pelo simples fato de diferentes serem seus gêneros é um modo de, mediatamente, legitimar práticas de violência contra a mulher, o estupro e a misoginia em geral. Nenhuma mulher é “vagabunda” pelo simples fato de levar um estilo de vida que ao homem é permitido sem qualquer tipo de retaliação.

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